Comprovando a velha máxima de que, no Brasil, tudo muda em dias, mas nada muda em 10 anos, encerramos o mês de maio com grandes emoções. As tão esperadas medidas de contingência de gastos do governo vieram com “surpresas”: a principal delas foi o aumento do IOF sobre operações cambiais, interrompendo a redução iniciada em 2022 e reacendendo dúvidas sobre a previsibilidade da política econômica brasileira.
A alíquota subiu para 3,5% em diversas transações, como compras internacionais e remessas ao exterior. O objetivo? Reforçar a arrecadação — estimada em R$ 20 bilhões — e cumprir metas fiscais. Mas o impacto foi mais simbólico do que efetivo diante de um déficit que se aproxima de R$ 1 trilhão. A reação negativa foi tamanha que, poucas horas depois, o governo voltou atrás e reduziu o IOF para 1,1% no caso de investimentos no exterior. Só tem um detalhe: antes, a taxa era de 0,38%. Ou seja, o “não é aumento” virou “aumento disfarçado”. Quem assistiu à entrevista do ministro da economia anunciando essa “redução” ficou perplexo, ou ele não sabia o que estava falando ou realmente acha que somos idiotas.
Em um país em que tudo muda de repente, mas o improviso fiscal permanece como constante, o aumento do IOF é mais um episódio do eterno retorno da instabilidade e incerteza.
Mais grave ainda foi o ruído institucional. A medida afeta diretamente o mercado cambial, mas foi tomada sem coordenação com o Banco Central, que se manifestou contrário. Afinal, elevar o IOF em operações cambiais funciona, na prática, como controle de capitais — algo incompatível com o regime de câmbio flutuante e com a autonomia operacional do BC.
Quando política fiscal e monetária operam em desarmonia, o resultado é ruído, ineficiência e perda de credibilidade. Em regimes de metas de inflação, como o brasileiro, o BC calibra juros com base em expectativas ancoradas — algo que decisões unilaterais podem desestabilizar.
Mesmo com a revogação parcial da medida, o estrago estava feito. Para o mercado, o que importa é o sinal. A disposição de interferir vira precedente, e a reversão não apaga a memória institucional. Como naquela frase que diz: “cachorro mordido por cobra tem medo até de linguiça”.
Essa incerteza se traduz em prêmio de risco, câmbio mais volátil e custo mais alto para rolar dívida. Em um momento em que o Brasil poderia se beneficiar do apetite por emergentes, o gesto atravessado tirou o brilho da vitrine.
O pior é a insistência do governo em justificar que estes aumentos de impostos são apenas para os “mais ricos”, uma clara justificativa ideológica e populista que vem se criando ultimamente. Qualquer economista — ou dona de casa — sabe que aumento de imposto vira custo para todo mundo. Efeito cascata é real, não é teoria.
E o investidor?
A canetada que elevou o IOF de 0,38% para 3,5% — e depois para 1,1% — escancara o que os mais experientes já sabem: no Brasil, a imprevisibilidade é a regra. E o impacto vai além da alíquota. O verdadeiro risco está na instabilidade institucional e na falta de previsibilidade.
Por isso, investir no exterior deixou de ser uma estratégia “sofisticada” para virar uma necessidade. Atrelar parte do patrimônio a moedas fortes, como o dólar, é uma forma de proteger a liberdade financeira contra decisões que fogem totalmente do seu controle.
Afinal, no Brasil, até o passado é incerto. Mas seu futuro não precisa ser.
Run Forest, run!