(Revirando tição…)
Uma tradição antiga… que anda muito esquecida, tanto que, pouco se tem falado nesse costume que nasceu com a nossa história. Em homenagem ao Dia do Café: 24 de maio.
Era a maneira prática (e única) que tropeiros e carreteiros – principalmente – dispunham numa “sesteada” ou pouso. Um método prático e eficiente que exigia apenas um fogo de chão e a chaleira preta, de ferro. Assim, ao ferver a água, despejava-se umas colheres de pó de café direto na chaleira, deixando ferver mais um pouco. Aí, retirava-se a chaleira do fogo, colocando dentro dela um tição em brasa, por alguns segundos. E, dava-se também, umas batidas com as costas da faca ou outro objeto na chaleira. E a borra (pó) estava “sentada” no fundo da chaleira e o café pronto.
Tudo isso, é claro, quando não se tinha o coador!
Apesar do costume ter entrado para a história e reconhecido por “café de chaleira”, muitas vezes ele é preparado em outros recipientes:
Cambona – chaleira rústica feita de lata com uma alça de arame.
Chicolateira – vasilha de folha para aquecer água e para fazer café. Também chamada de chocolateira.
Não raro por cima do fogo há uma trempe ou tripé, para pendurar ou assentar a vasilha no fogo.
Nosso cancioneiro bem descreveu esse hábito gaúcho, imortalizado no Xote Laranjeira (composição de Barbosa Lessa e Paixão Côrtes):
“Mas deixa estar que eu vou-me embora
eu vou-me embora pra fronteira
que é pra comer churrasco gordo
e tomar café de chaleira”.
Hoje, podemos encontrar esse hábito sendo lembrado em acampamentos, em rodeios e demais encontros da cultura gaúcha. E, num café de chaleira mais urbano, podemos “sentar” a borra com um pouco de água gelada!
Chega de café de chaleira!
Quem tem mais de 50 anos deve lembrar: na década de 1970, o folclorista Paixão Côrtes protagonizou uma propaganda na TV na qual, em termos gerais, relevava a um segundo plano a tradição do café de chaleira, anunciando uma marca de café solúvel…
Um ato criticado pelos tradicionalistas e o público em geral!
Daí em diante, por brincadeira e por muito tempo, para expressar uma mudança radical, dizia-se: “chega de café de chaleira”!!!
Alguns historiadores creditam o hábito desse “café” aos mascates (geralmente de origem turca) nessas plagas com seu comércio ambulante…
Mas, independentemente da origem, o café de chaleira continua entre os mais caros elementos da história do Rio Grande do Sul… a nossa terra!